A corrupção
tem cura?
Resenha
do artigo de Luís Flavio Gomes
Engajado
na luta contra a corrupção, o professor e penalista Luiz Flavio Gomes fala sobre o exemplo de Hong Kong, que mostrou,
em poucas décadas, que a corrupção tem cura, ou seja, a corrupção foi combatida
por meio da educação, da prevenção e da repressão, aplicados de forma
concomitante.
Para Gomes,
diante do rápido desenvolvimento econômico e social, Hong Kong poderia ter
ficado em patamar de corrupção próximo ao da China, México, Argentina e
Indonésia, países que, de acordo com o ranking mundial de corrupção 2014, da
ONG Transparência Internacional, estão entre as posições 100º e 107º, dentre
174 países. O Brasil ocupa a 69ª posição.
A história
recente de Hong Kong
O autor
revela que, nos anos 60/70, Hong Kong era considerado um dos territórios mais
corruptos do mundo. Hoje está na 17ª posição, à frente de Estados Unidos e
Reino Unido, por exemplo. Em menos de meio século, ocorreu a diminuição do fenômeno
terrível, em um lugar onde vigorava a cultura do “money tea” (dinheiro do chá).
Todos
os setores sociais (com destaque para a polícia) achavam-se completamente
contaminados pela “cultura da corrupção”. Em 1971 começou a grande virada, com
a descoberta do caso “PF Gedber” (policial que ficou rico com a corrupção). Ele
se aposentou. Após incontáveis protestos da população, em 1974, foi criada uma
das organizações anticorrupção mais poderosas do mundo: a Comissão Independente
Contra a Corrupção (algo que poderia ser imaginado no Brasil, mesclando agentes
do Estado com a sociedade civil). A Comissão, inovadoramente, com três
departamentos, focou em educação, prevenção e repressão. A ponte para a solução
real do problema é composta de três vias.
O
grande legado de Hong Kong é mostrar que uma só via (repressão) não funciona. É
como cortar grama, que renasce. O Departamento de Operações centraliza todas as
“denúncias” de corrupção (assegurando o sigilo e dando apoio ao denunciante) e
faz as devidas investigações com rapidez. Luta com denodo pela “certeza do
castigo”. O Departamento de Prevenção difunde práticas e procedimentos que
reduziram drasticamente a quantidade de corrupção; o Departamento de Relações
com a Comunidade cuida da educação e propaga os malefícios da roubalheira. Usa
propagandas massivas. Atua em escolas, organizações distritais, no setor
público e no privado: educa os jovens, difundindo ética e moralidade aos
cidadãos. Em todas as apresentações as personagens protagonizam dilemas éticos,
vencendo sempre o honesto.
O
Índice de Liberdade Econômica 2012, da Fundação Heritage, com sede nos Estados
Unidos, apontou uma tolerância mínima para a corrupção em Hong Kong e eficácia
exuberante nas medidas anticorrupção da cidade. Em outra pesquisa, feita pela
ICAC, numa escala de 0 a 10 onde zero é extremante intolerante à corrupção e 10
totalmente tolerante, os cidadãos de Hong Kong obtiveram uma média de 0,8
pontos na última década. Mudanças de valores são mais importantes que apenas
reformar as leis penais. A via repressiva exclusiva, sobretudo quando
populista, satisfaz a ira da população irada, mas não resolve o problema.
Gomes
finaliza com a pergunta: Se Hong Kong, uma nação que tinha uma posição muito
pior que a do Brasil anos atrás conseguiu, por que não podemos conseguir?
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