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Autor(a): Oded Grajew |
Embora em voga, o conceito de
sustentabilidade ainda é pouco compreendido tanto por quem fala sobre ele
quanto por quem o ouve.
Nos últimos anos, intensificou-se a
discussão a respeito do aquecimento global e do esgotamento dos recursos
naturais. São preocupações legítimas e inquestionáveis, mas que geraram
distorção no significado de sustentabilidade, restringindo-o às questões
ambientais. Não é só isso. A sustentabilidade está diretamente associada aos
processos que podem se manter e melhorar ao longo do tempo. A
insustentabilidade comanda processos que se esgotam. E isso depende não
apenas das questões ambientais. São igualmente fundamentais os aspectos
sociais, econômicos, políticos e culturais.
A sustentabilidade e a
insustentabilidade se tornam claras quando traduzidas em situações práticas:
Esgotar recursos naturais não é
sustentável. Reciclar e evitar desperdícios é sustentável.
Corrupção é insustentável. Ética é
sustentável.
Violência é insustentável. Paz é
sustentável.
Desigualdade é insustentável. Justiça
social é sustentável.
Baixos indicadores educacionais são
insustentáveis. Educação de qualidade para todos é sustentável.
Ditadura e autoritarismo são
insustentáveis. Democracia é sustentável.
Trabalho escravo e desemprego são
insustentáveis. Trabalho decente para todos é sustentável.
Poluição é insustentável. Ar e águas
limpos são sustentáveis.
Encher as cidades de carros é
insustentável. Transporte coletivo e de bicicletas é sustentável.
Solidariedade é sustentável.
Individualismo é insustentável.
Cidade comandada pela especulação
imobiliária é insustentável. Cidade planejada para que cada habitante tenha
moradia digna, trabalho, serviços e equipamentos públicos por perto é
sustentável.
Sociedade que maltrata crianças,
idosos e deficientes não é sustentável. Sociedade que cuida de todos é
sustentável.
Dados científicos mostram que o atual
modelo de desenvolvimento é insustentável e ameaça a sobrevivência inclusive
da espécie humana. Provas não faltam. Destruímos quase a metade das grandes
florestas do planeta, que são os pulmões do mundo. Liberamos imensa
quantidade de dióxido de carbono e outros gases causadores de efeito estufa,
num ciclo de aquecimento global e instabilidades climáticas.
Temos solapado a fertilidade do solo e sua capacidade de sustentar a vida: 65% da terra cultivada foram perdidos e 15% estão em processo de desertificação
Cerca de 50 mil espécies de plantas e
animais desaparecem todos os anos e, em sua maior parte, em decorrência de
atividades humanas
Produzimos uma sociedade planetária
escandalosa e crescentemente desigual: 1.195 bilionários valem, juntos, US$
4,4 trilhões --ou seja, quase o dobro da renda anual dos 50% mais pobres. O
1% de mais ricos da humanidade recebe o mesmo que os 57% mais pobres
Os gastos militares anuais passam de
US$ 1,5 trilhão, o equivalente a 66% da renda anual dos 50% mais pobres.
Esse cenário pouco animador mostra a
necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável. Cabe a nós torná-lo
possível e viável.
Fonte: Folha de São Paulo, 07 de maio
de 2013
7/5/2013
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O autor é empresário, coordenador da
secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto
Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial.
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