OLHA ESSA DO QUEIROZ...
(Publicado no O Liberal de 22.jun.2011)
Paraguassú Éleres
No final dos anos 60, inicio do aposseamento das terras tituladas pelo governo do Pará, consequência da construção da Belém-Brasíla, um estudante de medicina vinha de Goiás em visita a Conceição do Araguaia. A caminho da vila de Redenção, sonho de Luiz Vargas e outros, o carro capotou, o jovem quebrou a perna e voltou para Goiânia. Formado, veio e montou um hospital em Redenção quando a cidade ainda não tinha 100 casas. Veio e ficou. Não era, como muitos outros, um aventureiro, mas um aventuroso. Eu o conheci quando perito judicial em questão da qual era parte e requisitei um auxiliar de campo local, que “soubesse fazer conta” . Quando o Cesna pousou em Redenção lá estava um estudante universitário, com as tralhas prontas e a bóia para trabalhar à noite na observação de estrela que eu faria. Dali seguimos pela trilha estradada, hoje PA-150. Naqueles dias, em Redenção, na saída da casa onde fiquei, notei uma pessoa a me seguir. Onde eu estava, lá estava a sombra, fato que comentei com Giovani Queiroz. A resposta: a “sombra” era meu guarda-costas... “Se lhe tocarem a reação será em gente de engatinhando a caducando...”. No dia da audiência a porta do fórum parecia parada militar de tanta arma. Mas tudo correu bem.
Nos anos 70, através de Giovani Queiroz conheci gente de Campina Verde - seu tio ex-reitor da Universidade de Goiás, Lúcia Teixeira, procuradora do Incra em Brasília, e seu irmão Caio, consultor jurídico do Senado (com quem ouvia clássicos como “Moldávia”, de Smetana, no fusca de andar no sertão).
Giovani tornou-se prefeito de Conceição do Araguaia, deputado estadual (durante a Constituinte Estadual falamos sobre a organização da Defensoria Pública, que eu dirigia à época). Elegeu-se deputado federal com base eleitoral no sul do Pará. A ultima vez que falamos foi num avião para Brasília. Dei-lhe meu livro “Intervenção Territorial Federal na Amazônia”. Não sei se leu, pois não tive resposta.
Estou eu a falar desses fatos para mensurar o quilate dos que enfrentaremos no plebiscito de dezembro, que decidirá a divisão do Pará: Estado do Tapajós, a oeste, com 58% da área atual; Estado do Carajás, ao sul, liderada por Giovani Queiroz e outros, a mais rica ameaça do desmembramento, com 25% do território, inclusa a província mineral do Carajás e todos os municípios credores dos royaltes da Eletronorte, em função do lago da hidrelétrica de Tucuruí. Ao “Pará”, inerte em contestar, restarão 17%, inclusas as florestas devastadas, no nordeste, zona bragantina, e os restos do “arco de fogo”.
Por que inerte? Porque nossos líderes – gente da elite que mantém o Estado no estado em que está, que aceitou bovinamente calada, sem protestos, o garroteamento do Tocantins para produzir energia elétrica para outros estados e nós ficamos sem usar nossa importante via hídrica, e também o Decreto-lei 1164/1971, pelo qual os generais-presidentes saquearam 30% das nossas terras, e em relação ao esquartejamento do Pará só agora ensaiam uma insípida reação que começa por “estudos” de gabinete, em vez de saírem à rua, pondo a boca no trombone, convidando a “plebe” votante do plebiscito a dizer NÃO À DIVISÃO. Ainda há tempo? Certamente sim. Mas não nessa postura de punhos rendados. Esta é uma briga nativista. Briga cabana, testosterona intelectual fumegando pelas ventas, na qual o povo deve ser chamado. Se não, ouviremos os lamurientos sábios heróis dizendo após a perda “eu não disse?..”
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Paraguassú Éleres é Agrimensor, Advogado, Professor e Mestre em Direito Agrário
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