- das cerca de 200 famílias assentadas, apenas 48 receberam as casas a que têm direito através do crédito habitação, liberado pelo Incra;
- a energia elétrica ainda não chegou;
- não há ambulância no local e não há sinal de telefone para chamar por socorro;
- o ponto onde há sinal de celular fica a mais de 20 km;
- Não existe transporte público para ir até Anapu. Os assentados pagam R$ 15 para viajarem na carroceria de uma camionete particular que passa apenas três vezes por semana, sendo que alguns deles têm que caminhar até 7 km até o ponto onde a camionete passa;
- As estradas são ruins e o escoamento da produção dos assentados é muito dificil;
Responsável por regularizar a situação de conflitos fundiários e fomentar o desenvolvimento dentro dos assentamentos, o Incra tem equipe reduzida na região e sofreu um corte de 70% em seu orçamento nacional este ano.
Neste ano foi estabelecido um Grupo de Trabalho especial do Incra em Anapu, mas seus funcionários chegam a ficar mais de um mês sem tirar folga nos finais de semana e invariavelmente trabalham com sobrecarga de horário.
Belo Monte impacta mais ainda a vida dos assentados de Anapu
Para complicar ainda mais a situação dos colonos, o preço dos tijolos na
região está inflacionado por causa da demanda das obras de Belo
Monte. O milheiro do tijolo custava cerca de R$ 350,00 há um
ano atrás. Agora custa mais de R$ 700,00, mas o valor para compra de materiais
para construção das casas dos assentados continua o mesmo: R$ 15 mil reais.
Os caminhões de Belo Monte vem até às lojas com funcionários para carregar os
tijolos e pagam em dinheiro. Já os assentados precisam que seja entregue dentro do
assentamento. Com as estradas
ruins, os donos das lojas preferem não correr o risco de arcar com o transporte
do material para os assentados.
Famílias recebem seus lotes sem nenhuma ajuda para iniciar a produção e têm que desbravar sozinhas
No dia 6 de junho, Marcio
Ribeiro, 25, com a esposa Natalha Almeida, 18, e o
filho Jeremias, foram assentados no seu pedaço de terra na área
do Lote 55.
O capim estava crescido mais de dois metros de altura e a famílias de Márcio foi assentada sem ainda ter recebido o
crédito de apoio inicial do governo (R$ 3.200 para compra de ferramentas e bens
de primeira necessidade) e sem ter uma casa, a que assentados de reforma agrária
têm direito.
A situação é sempre a mesma: isoladas, as famílias de assentados têm que desbravar
sozinhas o matagal e iniciar sua plantação. Enquanto fazem isso, muitos têm
ainda que intercalar seus dias "tirando diárias" para fazendeiros da região,
ganhando R$ 25,00 por dia de trabalho para sobreviver.
Assentados x fazendeiros = pobreza de um lado e riqueza de outro, mostra do modelo de desenvolvimento escolhido pelo governo brasileiro
A imagem de
Márcio e Natalha, segurando no colo o pequeno
Jeremias, diante de um barraco de madeira coberto com palha, e
de suas coisas empilhadas e uma panela de feijão cozinhando no gás que compraram
"fiado", se contrapõe àquela dos grandes fazendeiros e madeireiros desfilando
pela cidade em suas caminhonetes Hylux 4×4. Contraste visível
do modelo de desenvolvimento escolhido, por planejamento ou omissão, para a
fronteira de expansão econômica do país.
Mas os assentados
resistem
Contrariando todas as expectativas pessimistas, o
Esperança dá certo para muitas famílias e elas de lá nunca arredarão o pé:
Ivonildes Santos Sousa, 45,
a única mulher a ter participado do bloqueio aos madeireiros no ano passado,
vive no PDS Esperança desde que foi criado, em 2004, e já plantou mais de 7 mil
pés de cacau em seu terreno. O cacau é uma das principais alternativas para
agricultura aliada à conservação ambiental na região, pela maneira como a
espécie convive com a floresta. E a terra é boa. Com a compra das sementes
subsidiadas pela CEPLAC, órgão ligado ao Ministério da
Agricultura, os assentados têm conseguido produzir. Ate hoje Ivonildes não
recebeu a casa a que todo assentado de reforma agrária tem
direito.
Antônio Silva, 42, ocupa há dois anos sua terra no Lote 55. Com a ajuda da esposa e dos
cinco filhos, já plantou 3 mil pés de cacau, mandioca, banana, batata, arroz,
feijão e milho. O único recurso que recebeu do governo foi o crédito como apoio
inicial, no valor de R$ 3,2 mil. Ele também não teve construída sua casa e vive
em um barraco que ergueu aproveitando as estacas da cerca da fazenda que existia
ali. Conhecido pelo apelido de "Índio", Antônio é tido
como exemplo pelos outros assentados do que um homem pode fazer em sua terra com
as próprias mãos. Depois de passar muita dificuldade, já consegue tirar da roça
o alimento básico e, para comprar o que não pode plantar (óleo, café, açucar,
gás etc) ainda é obrigado a trabalhar em regime de diária para fazendeiros da
região.
No ano que vem sua plantação de cacau começa a produzir. Morando
na área mais distante do assentamento, ele terá o desafio de transportar a
produção para vender em Anapu, ao preço hoje de R$ 4,30 o quilo. Sem as
condições mais básicas de infra-estrutura, os assentados também não têm uma
organização coletiva para transportar e beneficiar o cacau, o que agregaria
maior valor ao produto.
Antônio conta que não gosta de
televisão, mas diz que seria bom de tivesse energia elétrica pra ter uma
geladeira. - Aí a comida não estragava. No inverno (meses de chuva) é
difícil a gente conservar carne salgando.
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