Altamira: a cidade virou um caos com a construção de Belo Monte, o "monstruoso projeto".

terça-feira, 10 de abril de 2012

Por Ana Maria
Quando visitei Altamira, em abril de 2011, as pessoas já estavam sentindo um forte impacto social em razão da iminência das obras de Belo Monte. Menos de um ano depois, leio o artigo de D. Erwin Kräutler, Bispo do Xingu, e não me surpreendo com seu relato sobre o caos se implantou no município. Para ele, "um rolo compressor está passando por cima de todos nós".
Em seu artigo, o D. Erwin Kräutler afirma que o presidente Lula mentiu quando, pessoalmente, no dia 22 de julho de 2009, lhe afirmou que não iria "empurrar este projeto goela abaixo de quem quer que seja".
O bispo é enfático ao afirmar que está acontecendo exatamente o que Lula disse que não iria fazer: "o governo empurra, sim, Belo Monte goela abaixo!. Altamira virou um caos em todos os sentidos. Nada do prometido foi realizado".

O CAOS gerado por Belo Monte, elencado pelo Bispo do Xingu:
  • nao foi feito o saneamento básico que era uma das condicionantes do IBAMA para dar licença para iniciar a obra;
  • não tem leito nos hospitais;
  • não há vaga nas escolas,
  • homicídios na ordem do dia;
  • prostituição a céu aberto no centro da cidade;
  • os aluguéis de uma casa simples pularam de 300 para 2.000 Reais;
  • os preços de alimentos triplicaram;
  • acidentes de trânsito tornam a vida na cidade um perigo constante;
  • miséria para todo lado;
  • intensa migração de pessoas que dependem da ação do Estado para sobreviver.
Ao visitar uma comunidade no interior de Porto de Moz e ser arguido sobre Belo Monte D. Erwin Kräutler desabafou: "O que mais vou dizer a vocês? Fui várias vezes "ver" o canteiro de obras, quer dizer, queria ver, porque não me deixaram entrar, mas vi de longe os estragos já irrecuperáveis. Rezei missa com as comunidades ameaçadas de despejo. Os grandes fazendeiros receberam indenizações, mas o coitado do pequeno produtor e agricultor não sabe o que vai ser dele e de sua família. Arrasaram com uma vila inteira: Santo Antônio. O pessoal da Norte Energia é para lá de arrogante. Se o colono não desocupa o seu sitio, a Justiça dá ordem de despejo e manda a polícia em cima do pobre, pois a Norte Energia considera toda a região propriedade sua e os moradores, que lá vivem desde os tempos do bisavô, invasores."
"E para onde vai toda essa gente?"  
"Pois também eu quero saber. Prometem solução, mas nunca dizem que tipo de solução, onde, quando, de que jeito."
"E o povo de Altamira?"

"Muita gente está com o coração despedaçado. Até comerciantes e empresários que antes colaram em seus carros adesivos "Queremos Belo Monte" andam hoje cabisbaixos. Quem pode contra a fúria da "Norte Energia"? Aliás "Norte Energia" é o próprio Governo, antes Lula, agora Dilma. Nunca houve diálogo com o povo daqui, nem com índios, nem com ribeirinhos, nem com o povo da cidade. O governo traiu o povo que o elegeu e ri-se de quem defende os índios, os ribeirinhos, os pobres atingidos pela barragem. Fala de preço a ser pago pelo progresso. Só que esse preço sacrifica o nosso povo e não as famílias de políticos em Brasília. Um terço de Altamira vai para o fundo e o resto vai ficar à margem de um lago podre, criador de carapanã e causador de dengue e malária".
"E os índios? É verdade que estão a favor da barragem?"
"Não digo que estão a favor da barragem, estão a favor dos presentes que recebem. Muitos deles que antes viviam abandonados pelo governo e entregues à própria sorte, hoje têm todas as contas pagas no comércio, recebem cestas básicas e combustível e outros benefícios. O governo que negou aos índios se manifestarem em oitivas previstas em lei, agora se esmera em entupi-los de dinheiro para fechar-lhes a boca. Antigamente enganou-se os índios com espelhos e bugigangas, hoje milhões de reais são injetados nas aldeias para paralisar a luta indígena e cooptar as lideranças. O preço é muito alto. Não se mata mais índio a ferro e fogo. O dinheiro farto é a punhalada traiçoeira no coração das culturas indígenas e de sua organização comunitária. E o governo afirma em alto e bom som que nenhuma aldeia será alagada. Aldeia não será alagada, sim! O que a Norte Energia faz, é cortar a água aos índios e ribeirinhos da Grande Volta do Xingu. E o povo da Volta Grande vive e sobrevive da pesca. E tem mais. O que vai acontecer com uma aldeia a poucos quilômetros do canteiro de obras onde trabalham milhares de homens? É muito triste! Dá dó!"
"E nós? Como é que nós vamos ficar, nós que moramos abaixo da futura barragem? Ou, como essa gente de Brasília fala, 'à jusante'?"
"Bem, vocês sabem o que acontece se fazem uma tapagem no igarapé. Acima da tapagem, o que acontece?"
"O igarapé alaga a terra firme!"
"E abaixo da tapagem?"
"Ora, o igarapé seca!"
"Pois é. O Xingu abaixo da barragem vai baixar de nível e os igarapés e afluentes também. Há trechos em que o Amazonas vai entrar no leito do Xingu e nossos peixes que não se dão com a água barrenta do Amazonas vão morrer."
Em suma, Belo Monte é um projeto monstruoso que está sendo enfiado goela abaixo do povo paraense. Continuo afirmando uma ideia simples mas verdadeira: essa obra é um meio "legal" de transferir dinheiro público e recursos ambientais para os bolsos privados. Não beneficiará o Pará, será a ruína para o povo do Xingu, e o caos social se implantará na região. E ainda mais: atrairá pobres de outros países.

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