Rondon do Pará é apontado como porta para o tráfico humano internacional

domingo, 29 de abril de 2012


 
O município de Rondon do Pará, localizado no sudeste paraense, distante cerca de 560 quilômetros da capital, é apontado como um dos corredores da imigração ilegal no Brasil. Pelo menos seis mil pessoas teriam saído de Rondon do Pará em 20 anos.

O esquema vem sendo investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico Humano, na Assembleia Legislativa do Pará. Em março, a CPI realizou uma sessão especial para discutir o problema. Na ocasião, foram ouvidos relatos de moradores que foram e estão sendo vítimas dessa prática de extorsão no município.

A rota Rondon-EUA passa por São Paulo e usa como porta de entrada para o solo norte-americano desertos no México ou Guatemala. Além da entrada ilegal nos Estados Unidos, a quadrilha utiliza um expediente que dá garantia de pagamento dos que se embrenham na aventura da migração clandestina aos aliciadores. Em Rondon do Pará, algumas agências de turismo participam do esquema, segundo apuraram os deputados.

Ao realizar o empréstimo para financiar a empreitada, os agiotas ligados à rede, exigem que as pessoas ao chegar ao exterior se comprometam a reembolsar mensalmente certa quantia pelos serviços ofertados e contratados. O dinheiro também é para efetuar o pagamento do “coiote”, responsável por facilitar o tráfico de pessoas na fronteira do México para várias partes do mundo.

CRIME EM CARTÓRIO

O pagamento é garantido via compromisso firmado em cartório. Como garantia de pagamento do dinheiro que recebe, o imigrante deixa como garantia algum imóvel e se compromete a pagar as prestações. Quem fica vive assombrado com a possibilidade real de perder casa dada em garantia.

Há casos como o de M.S.M, mulher que perdeu o terreno para um agenciador em garantia das despesas de viagem do marido aos Estados Unidos. Ou a do mototaxista A.R. da S. que teve o pai morto no México. Mesmo assim teve de desembolsar R$ 16 mil para a quadrilha.

Em 2009, D, pagou R$ 8 mil e quase perde a casa da mãe, dada como garantia em empréstimo para imigração ilegal. Trabalhadora de uma drogaria em Rondon, V. tentou entrar nos Estados Unidos através do México. Não conseguiu e voltou. Mesmo assim teve de pagar a dívida contraída.

DÍVIDAS E MORTES
No dia 10 de abril, duas vítimas - um homem e uma mulher - desse tipo de agenciamento em Rondon do Pará depuseram em Belém. Com máscaras protegendo os próprios rostos relataram como funciona o esquema:
“A pessoa chega e oferece assim: ‘olha se você quer ir nós arranjamos uma pessoa que te leva. Só que essa pessoa que oferece para levar geralmente não é de Rondon. As pessoas que são de Rondon arcam com o dinheiro. Elas emprestam”.
Segundo o relato dos dois depoentes, o auge do tráfico foi há cinco anos. De lá para cá, depois que a crise econômica se instalou nos Estados Unidos, o movimento diminuiu, mas também ficou mais complicado aos que estão lá cumprir os pagamentos. Disseram que as despesas pagas aos atravessadores são em média de R$ 30 mil.

O relatório da CPI ainda não está concluído, mas a intenção do relator é que as informações sejam repassadas à Polícia Federal e também subsidiem os deputados federais em CPIs semelhantes que estão ocorrendo em âmbito nacional.
Fonte: Diário do Pará em 29/04/2012

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