Caso Senador Demóstenes: entenda do que se trata

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Foto: oglobo.globo.com
O senador Demóstenes Torres foi flagrado em um grampo telefônico realizado pela Polícia Federal defendendo os interesses do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Nas conversas com o "empresário do ramo dos jogos de azar" o senador demonstra intimidade com seu interlocutor, inclusive o chama de "professor" e é tratado de "doutor".
Ocorre que, para azar de Demóstenes, Carlinhos Cachoeira estava sendo investigado pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que o apontou como chefe de um esquema de jogos de azar. 
O senador teria trocado cerca de 300 telefonemas com o bicheiro, o qual foi preso em 29 de fevereiro, em Goiânia.
A revista Carta Capital publicou em março uma matéria na qual afirma que o senador estaria recebendo 30% da arrecadação de Cachoeira com o jogo ilegal. Esse dinheiro, possivelmente, seria para fazer o caixa 2 de sua campanha eleitoral.
No mesmo mês, o jornal O Globo divulgou as revelações colhidas das escutas telefônicas instaladas pela PF, nas quais o senador pede dinheiro ao bicheiro e fornece-lhe informações oficiais. O mesmo jornal diz que Cachoeira presenteou Demóstenes com uma cozinha orçada em R$30 mil.
Outras denúncias divulgadas dias depois pela imprensa apontam que o senador foi citado em diversas conversas nas quais Cachoeira se refere a quantias milionárias.

No dia 27 de março, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de investigação contra Torres, sob a suspeita de corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa.
Pressionado pelas denúncias, Demóstenes deixou a liderança do DEM no Senado.

Um inquérito foi aberto dois dias depois pelo ministro Ricardo Lewandowski, do STF, determinando a quebra do sigilo bancário do senador e de outros investigados por suspeita de envolvimento com Carlinhos Cachoeira.

O silêncio do senador após a divulgação do material comprometedor apenas reforçou a gravidade das acusações.

O caso em si não apresenta nenhuma novidade ao esquema de corrupção que constitui a verdadeira base e o leitmotif de todo o regime político burguês: além de receberem salários exorbitantes, deputados e senadores são pagos por fora por quem tiver (geralmente empresários, banqueiros e representantes de grandes grupos econômicos) com propostas a serem apresentadas, defendidas e aprovadas nas casas legislativas do País.

Em casos que tais, há quem diga, a exemplo do que ocorreu com as denúncias feitas sobre o esquema do mensalão ou da formação de um caixa 2 do PT, sem constrangimento: recebeu dinheiro de um empresário? E daí? É o que todo mundo faz... Mas é claro que está mais do que na hora de o Povo nao renovar os mandatos dessas pessoas que atuam voltadas a interesses completamente alheios aos sociais. Enquanto isso, o STJ acha que as meninas prostitutas agem com liberdade.

Senador Demóstenes Torres era considerado o campeão da ética.
Ele foi o relator do projeto de lei da Ficha Limpa no Senado.

Uma vez aprovada a Lei, em 2010, Torres foi convidado a redigir o prefácio de um livro editado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em comemoração ao fato. No prefácio, após elogiar a atuação da OAB na aprovação da lei, Torres afirmou que a nação vai conquistar muito com a nova lei, pois o volume de recursos para beneficiar a população é inversamente proporcional ao número de bandidos abrigados na vida pública, referindo-se, também, a que a norma se fez realidade por intermédio da atenta participação da sociedade brasileira, que não mais admite que os destinos da nação possam ser geridos por representantes que não possuem conduta adequada à dignidade das relevantes funções públicas.

É claro que a OAB convidou Torres para prefaciar o elogio à Ficha Limpa porque ninguém tinha ideia das ligações dele com o jogo do bicho. 

A situação atual
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Demóstenes estaria discutindo com seus suplentes a renúncia ao cargo de senador com o fito de escapar à cassação do mandato e a consequentes perda dos seus direitos políticos.

Desde a semana passada, o senador se mantém recluso e evita conversar com seus correligionários e a imprensa. Ele pe membro do Ministério Público de Goiás e poderia reassumir o cargo de procurador caso renunciasse ao mandato. Com isso, as investigações teriam de passar do STF para o Tribunal de Justiça de Goiás, a Corte responsável pelo julgamento de membros do MP e do Poder Judiciário, entre outros. 

O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) protocolou uma representação contra Demóstenes no Conselho de Ética do Senado. A peça não foi acolhida formalmente pois o Conselho está sem presidente desde setembro de 2011. O vice-presidente do Conselho, Jayme Campos (DEM-MT), se declarou incompetente para receber a representação, que foi encaminhada para a consultoria jurídica do Senado.

Fonte: Jusbrasil
Referência: Partido da Causa Operária - 04 de Abril de 2012, Um cadáver político insepulto

2 comentários:

Anônimo disse...

Não posso deixar de manifestar minha total indignação pelo fato ocorrido envolvendo o Senador Demóstenes. Não é novidade pra ninguém os negócios escusos que a maioria de nossos políticos estão envolvidos. Todos os dias recebemos uma gama de informações acerca de negociatas patrocinadas pelos "ilustres" representantes do povo, contudo confesso que achava que o "nobre" Senador encontrava-se no seleto rol dos Parlamentares que presam pela honra; dignidade e, sobre tudo pelo amor a nação a que servem, ledo engano, na verdade somos ludibriados pelas aparições desses verdadeiros atores que no horário nobre invadem os lares dos Brasileiros, sempre impecavelmente vestidos e com discursos moralistas na "ponta da língua". Agora, diante dos fatos que já são do conhecimento de todos, espero contar com os rigores das investigações e por conseguinte da ação da justiça, que sempre será a única e verdadeira esperança de um povo já quase sem esperança.

Anônimo disse...

segundo materia do jornal o Estado de Sao paulo, além de elos com políticos, a organização criminosa comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tinha sob suas ordens dois delegados da Polícia Federal e 30 policiais militares, que vazavam informações privilegiadas e driblavam até a ação da Força Nacional de Segurança, quando atuava na repressão a jogos ilícitos em Goiás e nos arredores de Brasília.

De acordo com investigações da Operação Monte Carlo, que levou o contraventor - acusado de comandar uma rede de jogos ilegais - à prisão em fevereiro, R$ 200 mil teria sido o valor pago por Carlinhos Cachoeira para contar com os serviços do delegado da Polícia Federal Fernando Antonio Heredia Byron Filho, também preso na operação.


Byron integrava o time de interlocutores de Cachoeira que, como o senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO), se comunicava com o contraventor por meio de aparelhos de rádio Nextel habilitados no exterior para tentar escapar de escutas telefônicas. Seu papel era garantir a exploração de máquinas de caça-níqueis, vazar e direcionar investigações, a pedido de Cachoeira, a quem se refere como “guerreiro velho”. O contraventor o chamava de “doutor”.


Em agosto do ano passado, Byron prestou contas de um serviço para o contraventor e aproveitou para pedir um adiantamento de dinheiro para pagar um apartamento. A conversa telefônica foi interceptada pela operação Monte Carlo. A outro delegado da PF preso na operação, Deuselino Valadares dos Santos, o preço pago por Cachoeira foi bem mais alto.


Conhecido na organização como “Neguinho”, Deuselino Valadares foi cooptado quando chefiava a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Superintendência da Polícia Federal em Goiânia. Auditores fiscais atestaram enriquecimento do delegado, incompatível com os rendimentos declarados ao Fisco. Em 2011, ano em que foi afastado do cargo, Deuselino e sua mulher, Luanna Bastos Pires Valadares, teriam comprado à vista uma fazenda no município de Juarina, no Tocantins, por mais de R$ 1 milhão.


As investigações mostram que Carlinhos Cachoeira mantinha esquema de contatos políticos e com agentes da área de segurança, para garantir prosperidade aos seus negócios. Demóstenes Torres transitou nos dois grupos. Do esquema do contraventor também fariam parte seis delegados da Polícia Civil e 30 policiais militares.

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