Gilmar Mendes diz que o pedido de adiamento do mensalão objetivava atingir o STJ, criar um clima de corrupção geral

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ministro acusa ex-presidente Lula de “central de divulgação” de notícias falsas
Jornal do BrasilLuiz Orlando Carneiro, Brasília
Indignado, exaltado e munido de cópias de passagens aéreas e comprovantes de pagamentos de cartão de crédito, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou, nesta terça-feira, que “a gente está lidando com gangsteres, com bandidos, que ficam plantando essas informações”. Ele acrescentou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi “subsidiado com esse tipo de informação”, e tornou-se “a central de divulgação” das notícias veiculadas na imprensa segundo as quais o nome do ministro do STF iria aparecer no curso dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Cachoeira, por ter aceitado passagens ou caronas de avião do senador Demóstenes Torres.
A entrevista do ministro ocorreu na sua chegada à sala da 2ª Turma do STF, para a sessão ordinária das terças-feiras. À pergunta de se se sentia vítima, ao ser convidado, em abril, para um encontro com Lula e o ex-ministro Nelson Jobim, no qual o ex-presidente teria lhe oferecido “proteção” na CMPI, em troca de uma posição favorável ao adiamento do julgamento do Mensalão do PT, Gilmar Mendes respondeu: “Claro que isso é uma armação, obviamente. Mas não é para me atingir. As minhas posições em direito penal vocês todos conhecem. Era para atingir o tribunal, criar um clima de corrupção geral, era esse o objetivo”.
 
As principais perguntas feitas ao ministro e suas respostas foram as seguintes:
 
— O que o senhor acha da situação toda? Leu a informação de que o senhor teria viajado num jatinho do Cachoeira?
— Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês (documentos) para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gangsteres. Vamos deixar claro: Estamos lidando com bandidos. Bandidos. Bandidos que ficam plantando essas informações. Vocês se lembram do Gilmar de Mello Mendes (Referência à “Operação Navalha”, da Polícia Federal). É o mesmo nível de informação. Estamos lidando com gangsteres. Está aqui. A minha viagem para Berlim, a partir de Granada. Vocês têm aqui todos os documentos com hotéis... Chega de lidar com bandidos. Gangsteres. Pegam essas informações e ficam plantando. Que nível!
Vamos encerrar isso. Negócio de viagem. Por que não se esclarece isso? Vamos dizer que o Demóstenes me oferecesse uma carona num avião se ele tivesse. Teria algo de anormal? Eu fui duas vezes a Goiânia a convite do Demóstenes. Uma vez com o Jobim e Toffoli. E outra vez com Toffoli e a ministra Fátima Nancy. Avião que ele colocou à disposição. Tudo combinado e muitos de vocês já ouviram. Tenho tudo anotado. Era avião da empresa Voar. Vamos dizer que eu tivesse pego um avião que ele tivesse me oferecido? Eu tinha algum envolvimento com o eventual malfeito dele? Que negócio é esse? Grupo de chantagistas, bandidos. Desrespeitosos.
(O ministro prossegue, exaltado e falando alto.)
Mas eles não querem me constranger não, queriam constranger o tribunal. É preciso encerrar de uma vez por todos com isso. Vamos encerrar com isso. Não quero ter relação com bandidagem e quem está fazendo isso é bandido. Vocês sabem que, desde 1979, frequento a Alemanha, a todo tempo. Tenho uma filha que mora lá. Dou aula lá. Sou professor de Granada. Todo ano vou lá. Vocês vão ver, a minha passagem é tirada pelo Supremo. Quem pagou? Eu preciso que alguém pague a minha passagem, gente? O meu livro Curso de Direito Constitucional vendeu, de 2007 até agora, 80 mil exemplares. Dava para dar algumas voltas ao mundo. Não é viagem a Berlim. Vamos parar de conversa. Eu não preciso ficar me apropriando de fundo sindical e nem de dinheiro de empresa...
Quando o senhor se refere a bandidos o senhor está se referindo às pessoas que fizeram as gravações?
— Gente que está usando esse tipo de informação. É coisa de gangsterismo.
— Onde o presidente Lula entra nessa história?
— Ele recebeu esse tipo de informação. Gente que o subsidiou com esse tipo de informação e ele acreditou nela. Vamos encerrar com isso.
— Ele estava passando essas informações adiante?
— As notícias que me chegaram era que sim. De que ele era a central de divulgação disso. O próprio presidente. Estive com o embaixador Everton Vargas (em Berlim), que foi designado pelo Lula. Quem vai para Berlim clandestinamente vai a Embaixada? Coisa de moleque e de baixa inteligência. É gente que não tem nenhum neurônio. Para esclarecer tudo isso bastava um telefonema para a embaixada. Não precisava se fazer essa rede de intriga que está se fazendo. Chega disso.
— Quando o senhor diz que estão tentando coagir o Supremo, o que quer dizer?
— O objetivo era melar o julgamento do Mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção. Era isso. Tentaram fazer isso com o Gurgel e estão tentando fazer isso agora. Porque desde o começo eu assumi e não era para efeito de condenação. Todos vocês conhecem as minhas posições em matéria penal. Eu tenho combatido aqui o populismo judicial e o populismo penal. Mas por que eu defendo o julgamento? Porque nós vamos ficar desmoralizados se não o fizermos. Vão sair dois experientes juízes, que participaram do julgamento anterior, virão dois novos, que virão contaminados por uma onda de suspeição.... Por isso, o tribunal tem que julgar neste semestre, e por isso essa pressão para que o tribunal não julgue. Vamos encerrar com isso. Agora, eu que viajo o mundo. Vou quatro vezes por ano na Comissão de Veneza, sou o representante do Brasil na comissão. Preciso de alguém para pagar passagem para mim? Vamos parar de futrica. Não preciso ficar extorquindo van para obter dinheiro. O que é isso. Um pouco mais de respeito, p....
— Réus do mensalão estariam envolvidos nessa tentativa de melar o julgamento?
— Sei lá, mas alguém construiu essa lógica burra, irresponsável, imbecil. Mas construiu.
— O senhor quando diz que o presidente Lula é a central de divulgação disso tudo...
— Colegas de vocês que me disseram isso.
— Quando o presidente Lula tocou no assunto CPI e o senhor falou para ir fundo na investigação. Como ele reagiu?
— Ele ficou decepcionado e disse assim: E Berlim? Aí eu expliquei a ele que em Berlim eu ia tanto quando ele ia a São Bernardo. Alguém passou essa informação infeliz para ele, errada. Esses roteiros meus de viagem são públicos. Vocês podem pedir no meu gabinete. Eu não vou escondido para lugar nenhum.
— Na sua avaliação, o presidente foi uma vítima desses gangsteres, ou estaria incluído nesse grupo de pessoas?
— Acho que ele está sobreonerado com isso. Estão exigindo dele uma tarefa de Sísifo. Evidente que (a tarefa dele seria adiar o julgamento). Perturbar isso. Aonde nós chegamos? E essa rede de intriga a que vocês se prestam.
— O ministro Marco Aurélio disse que o senhor deveria ter se encontrado com Lula no seu gabinete. O senhor se arrepende de ter se encontrado com ele no escritório do Jobim?
— Não tem arrependimento. Até por que as circunstâncias eram muito específicas. Eu tinha uma relação muito específica com o presidente. Tive um excelente relacionamento com ele durante toda a presidência. Lembro questões relevantes. Vejam o impasse sobre vencimentos. A questão dos vencimentos dos magistrados se resolveu em uma conversa minha com o Lula. É isso que permitiu resolver. (...) Eu sempre tive excelente relacionamento com ele, relacionamento familiar. Quando ele ficou doente e voltou lá do
Recife, a dona Marisa chamou a minha mulher pra gente ficar lá conversando com ele e o Sigmaringa (advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas). Quando ele ficou doente, agora em São Paulo, eu falei com ele várias vezes. Cheguei a marcar visita, não consegui. Esse encontro pra mim era a reposição de uma visita. Recentemente ainda falei com o presidente Sarney: “Precisava conversar com o presidente Lula”. A coisa mais transparente. Então, quando o Jobim falou: “Olha, o Lula vai passar por aí, você não quer conversar com ele?” Por que escritório? Porque o escritório está na QI 3 (Quadra do Lago Sul), ao lado do Aeroporto, e o Lula estava indo ao aeroporto. Era uma conversa de velhos conhecidos, eu ia dar um abraço nele, era essa a conversa.
— Depois desse episódio, o senhor acha que a relação com Lula fica estremecida?
— Não quero fazer julgamento sobre isso.

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