AMBIENTALISTAS SÃO ASSASSINADOS EM RESERVA EXTRATIVISTA NO PARÁ. PISTOLEIROS CORTAM ORELHA DA VÍTIMA PARA LEVAR PARA O MANDANTE DO CRIME

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Por : Comissão Pastoral da Terra – CPT

Por volta das 8 horas da manhã de hoje, 24 de maio, os ambientalistas JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA e sua esposa MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA, foram assassinados a tiros no interior do Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de moto para a sede do município, localizada a 45 km do assentamento quando, ao passarem por uma ponte em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da ponte. 
Os dois ambientalistas tiveram morte instantanea, mas os pistoleiros ainda cortarem uma das orelhas de José Cláudio e a levaram como prova do crime para o(s) monstro (s) que os pagou para ceifarem as duas vidas. 

Quem eram as vítimas
José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira, uma área de 22 mil hectares onde existia uma das últimas reservas de Castanha do Pará, na região sudeste do nosso Estado, pois lá chegaram em 1997.
“Eu defendo a floresta em pé e seus habitantes, mas devido ao meu trabalho sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que não querem ver a floresta em pé”, denunciava José Cláudio, que foi o primeiro presidente da associação do assentamento, sucedido por sua espora Maria do Espírito Santo. Os dois ambientalistas eram incansáveis defensores da preservação da floresta extrativista. Inúmeras vezes interditaram estradas internas, pararam caminhões madeireiros dentro da reserva, anotaram as placas e encaminharam as denúncias ao IBAMA e Ministério Público Federal. Eram porta-vozes das mais de 300 famílias ali assentadas. Defendiam a floresta como suas próprias vidas. 
Maria do Espírito Santo também integrava o Conselho Nacional de Seringueiros e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas e se preparava para a formatura no curso de Pedagogia do Campo. No dia 15 de março passado ela defendeu o trabalho de conclusão de curso (TCC) no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Marabá.

Joao Claudio Ribeiro da Silva at a TED conference in Manaus in November Joao Claudio Ribeiro da Silva had long been an environmental campaigner


Ameaças de morte constantes
Nos últimos anos os dois passaram a ser ameaçados de morte por madeireiros e fazendeiros. Por diversas vezes encaminharam denúncias de ameaças sofridas, através da CPT e do CNS, aos órgãos competentes, sempre nominando madeireiros e fazendeiros como responsáveis pelas ameaças. No final do ano passado alguns pistoleiros estiveram na casa deles, buscando-os para matá-los, mas nao conseguiram localizá-los.


A área cobiçada por madeireiros, carvoeiros e fazendeiros
Além da Castanha do Pará, a reserva é rica em açaí, andiroba, cupuaçu e outras espécies propícias ao extrativismo. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros do município de Nova Ipixuna e de Jacundá. A área é também pressionada por fazendeiros que pretendem expandir a criação de gado no local.
 
Ameaças de morte denunciadas pela CPT

Nos últimos anos, a CPT denunciou as ameaças contra o casal no caderno de conflitos no campo. Nem a floresta nem os ambientalistas foram protegidos pelo poder público. As castanheiras continuaram sendo derrubadas pelos madeireiros e as duas lideranças tombaram pelas balas criminosas de pistoleiros a mando de seus ameaçadores.

A responsabilidade pelas mortes dos ambientalistas recai sobre o INCRA, o IBAMA, a Polícia Federal que nada fizeram para coibir a extração ilegal de castanheiras na reserva e a destruição da floresta pelos madeireiros e carvoeiros. Recai ainda sobre o governo do Estado do Pará, que não colocou a polícia para investigar as tantas denúncias feita por José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Por fim, os dois ambientalistas são vítimas do atual modelo de desenvolvimento imposto para a Amazônia pelos sucessivos governantes, que prioriza a exploração desenfreada e criminosa das riquezas da floresta, em benefício do agronegócio, de madeireiros e de mineradores.  As consequências são: a destruição da floresta, o saque de suas riquezas e a violência contra seus povos.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo vivem na luta e na memória do povo!
                                  
Marabá, 24 de maio de 2011.

Comissão Pastoral da Terra – CPT
Diocese de Marabá

Meus comentários: A Comissao Nacional de Combate à Violência no Campo tem defendido a criaçao de uma qualificadora para o tipo penal de ameaça. Exemplo de ameaça qualificada seria essa que os dois ambientalistas sofriam antes de ela ser consumada. .  

10 comentários:

mst disse...

NOTA DE MORTE ANUNCIADA

A história se repete!

Novamente, choramos e revoltamo-nos:

Direitos Humanos e Justiça são para quem neste país?
Hoje, 24 de maio de 2011, foram assassinados nossos companheiros, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna – PA. Os dois foram emboscados no meio da estrada por pistoleiros, executados com tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada e levada pelos seus assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”.
Camponeses e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta. Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No projeto de assentamento vive aproximadamente 500 famílias.



A denúncia das ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva agroextrativista.



Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA.



ATÉ QUANDO?



Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?



Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as autoridades tratando como se o aqui fosse distante?



Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os corruptos sejam nossos lideres?



Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele não existe?



Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?



Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda temos que conviver com a barbárie?



Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal – E COBRAMOS JUSTIÇA!



ESTAMOS EM VÍGILIA!!!

“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”



Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.

Anônimo disse...

até onde isso vai chega!e quando vai para ?

Anônimo disse...

Dra. Ana Maria,

que vida, a sua!! só preocupada com floresta, com luta pela terra, com rio, com assassinos, com impunidade ...

Relaxe!!!!!
A vida é curta, quebre as regras, perdoe rapidamente, beije suavemente, ame de verdade, ria sem controle, e nunca se arrependa de algo que lhe fez sorrir...

Ah,sim: arranje um namorado porque a senhora anda muito irritada.

Anônimo disse...

os reinos selestiais estão em festa e eles foram com o dever feito. Eles não sabem o que fazem por isso perdoar eles, mas que da raiva da raiva, não vou negar. esse bando de gente podre que se dizime no ato.

Anônimo disse...

em quatro séculos, as maiores evoluções dos ruralistas são o uso da motosserra, da espingarda calibre 12 e da caminhonetes 4×4 em vez do machado, do bacamarte e da liteira.

A isso podemos somar outros tantos sinais da “modernização” da grande burguesia agrária no Brasil, mas nada mudou em relação às suas práticas.

Há quatro séculos os senhores da Casa Grande tiravam seus lucros do Plantation, sistema baseado nas monoculturas de exportação.

Hoje os agroboys desfilam em reluzentes carros importados, mas obtêm seus ganhos exatamente da mesma forma de 400 anos atrás: monoculturas de exportação às custas de um tripé interligado entre si: trabalho escravo, semi-escravo ou de remuneração miserável; devastação ambiental em larga escala, ao arrepio da legislação; e usurpação da terra valendo-se da violência no campo (seja nos rincões do Pará ou na periferia de Ribeirão Preto, a “Califórnia brasileira”) contra quem não aceita servir de engrenagem para esse sistema.

Tais práticas são apenas as consequências práticas do caráter da classe.

No presente, eles ainda possuem isenção de impostos e podem se dar ao luxo de aplicar calote em cima de calote nos cofres públicos.

Anônimo disse...

“Brasil acordou hoje com assassinato de + dois líderes extrativistas no Pará e foi dormir com assassinato do Código Florestal.”

Anônimo disse...

*Ao contrário do que diz a turma do Aldo e da Kátia Abreu, mais de 2/3 dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são produzidos pela agricultura familiar. Duvida? Então informe-se. Deixo, por exemplo, uma notícia da Agência Sebrae: Agricultura familiar responde por 70% dos alimentos do país

Anônimo disse...

"Amorte não é nada para nós, pois, quando existimos,não existe a morte, e quando existe a morte, não existimosmais."

[ Epicuro]

CPT disse...

DECISÕES DE JUIZ BENEFICIAM MATADORES DE CASAL EXTRATIVISTA DE NOVA IPIXUNA.
Após quase dois meses dos assassinatos de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, a polícia civil do Pará concluiu as investigações e apontou como mandante dos crimes o fazendeiro José Rodrigues Moreira e como executores, os pistoleiros Lindonjonhson Silva Rocha (irmão de José Rodrigues) e Alberto Lopes do Nascimento. Mesmo identificando os executores e um mandante do crime, nenhum deles foi preso, todos encontram-se livres em lugar não sabido, graças a decisões do juiz Murilo Lemos Simão da 4ª vara penal da comarca de Marabá. No curso das investigações, a polícia civil pediu a prisão temporária dos acusados, mesmo com parecer favorável do Ministério Público o juiz negou o pedido. De posse de novas provas sobre a participação dos acusados a polícia ingressou com um segundo pedido, dessa vez, requereu a prisão preventiva de todos, o pedido chegou novamente às mãos do juiz com parecer favorável do MP e, mais uma vez, o juiz negou o pedido. Na semana passada, no final das investigações, a polícia civil ingressou com um terceiro pedido de prisão e, até o momento da divulgação do nome dos acusados em entrevista coletiva, o juiz não tinha decidido sobre mais esse pedido.

Ao negar a decretação da prisão dos acusado por duas vezes, o juiz contribuiu para que esses fugissem da região e, mesmo que sejam decretadas suas prisões, a prisão do grupo se torna ainda mais difícil. O mesmo juiz, decretou o sigilo das investigações sem que o delegado que presidia o inquérito ou o Ministério Público tenha solicitado. Muitos outros crimes de grande repercução já ocorreram no Estado do Pará (Gabriel Pimenta, Irmã Adelaide, massacre de Eldorado, José Dutra da Costa, Irmã Dorothy) e, em nenhum deles foi decretado segredo de Justiça. As decisões do juiz Murilo Lemos constituem mais um passo em favor da impunidade que tem sido a marca da atuação do Judiciário paraense em relação aos crimes no campo no Estado.

Desde o início das investigações as testemunhas ouvidas já indicavam a possível participação de José Rodrigues como um dos mandantes do crime, ao lado de outros fazendeiros e madeireiros do município. José Rodrigues pretendia ampliar sua criação de gado para dentro da reserva extrativista. No entanto, a área que ele dizia ter comprado já estava habitada por três famílias extrativistas. Na tentativa de expulsar as famílias, José Rodrigues levou um grupo de policiais entre civis e militares até o local, expulsou os trabalhadores, ateou fogo em uma das casas e levou um trabalhador detido até a delegacia de Nova Ipixuna. Na delegacia o trabalhador foi pressionado pelos policiais e José Rodrigues a assinar um termo de desistência do Lote. José Cláudio e Maria além de denunciarem a ação ilegal dos policiais ao INCRA apoiaram a volta dos colonos para os lotes.

Meses antes de suas mortes José Cláudio e Maria denunciaram as ameaças que estavam sofrendo e apontavam fazendeiros e madeireiros como os ameaçadores. As dezenas de depoimentos colhidos durantes as investigações apontam para a participação de outras pessoas na decisão de mandar matar José Cláudio e Maria. Razão pela qual as entidades abaixo relacionadas defendem a continuidade das investigações. As entidades esperam ainda que o inquérito presidido pela Polícia Federal, e não concluído ainda, possa avançar na identificação de outros acusados pelos crimes.

Pelo exposto exigimos: a decretação das prisões de todos os acusados e suas prisões imediatas, o fim da impunidade e a conclusão das investigações das mortes dos trabalhadores assassinados na região após a morte de José Cláudio e Maria.
Marabá, 19 de julho de 2011.
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá.
FETAGRI Regional Sudeste.

ana maria disse...

Polícia Prende Fazendeiro e pistoleiro acusados da morte

de casal de ambientalistas

G1





Operação das Polícias Civil e Militar do Pará prendeu neste domingo, em Novo Repartimento, dois homens acusados de envolvimento na morte do casal de extrativistas: José Cláudio Ribeiro da Silva e esposa Maria do Espírito Santo Silva.

Os ambientalistas foram mortos por tiros de espingarda em uma emboscada ocorrida em maio deste ano, na estrada de acesso ao assentamento Praialta Piranhanheira, em Nova Ipixuna.

O fazendeiro José Rodrigues Moreira, 43 anos, considerado o mandante do crime, e seu irmão, Lindonjonson Silva Rocha, 29 anos, estavam escondidos em uma casa na zona rural de Novo Repartimento desde que a Justiça decretou a prisão de ambos, em 20 de julho. Eles foram denunciados pelo Ministério Público.

De acordo coma Polícia Civil, os irmãos resistiram à prisão. Com eles foram encontrados três revólveres calibre 38, uma espingarda, 15 cartuchos de munição e documentos. Os dois foram encaminhados para Belém, onde vão aguardar vaga no sistema prisional do Pará. A polícia ainda busca um terceiro envolvido, que segue foragido.

Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, José Rodrigues Moreira foi apontado no inquérito policial como o mandante da execução de José Cláudio da Silva, após conflito envolvendo lotes de terra no assentamento Praialta Piranheira.

Lindonjonson e o terceiro participante organizaram a emboscada que culminou na morte dos extrativistas, segundo a polícia. Eles devem responder pelo crime de homicídio duplo.

Consequência

Após as mortes, homens da Força Nacional foram enviados à região de Nova Ipixuna para investigar ameaças feitas a trabalhadores rurais por madeireiros, que estariam desmatando áreas ilegalmente. Serrarias foram fechadas na região, após operações lideradas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).

Em agosto, o procurador Cláudio Terre do Amaral, do Ministério Público Federal (MPF) do Pará, encaminhou ofícios para a Polícia Federal (PF) e às autoridades de segurança pública do estado cobrando rigor nas investigações sobre ameaças de morte e assassinatos cometidos contra ambientalistas, agricultores, extrativistas e sindicalistas que atuam em proteção ao meio ambiente.

Segundo Amaral, madeireiros da região estariam oferecendo R$ 80 mil pela morte dessas pessoas.

O MPF pediu, também, medidas de proteção para familiares do casal de extrativistas assassinado no assentamento rural

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