Museu Emilio Goeldi e outros parques públicos ameaçados pela urbanização desordenada (sem ordem) de Belém

domingo, 6 de novembro de 2011

Espécies que vivem no museu fundado em 1871 estão sendo prejudicadas pelo intenso tráfego de veículos, verticalização das construções e outros fatores de urbanização desregrada que vivemos em nossa cidade


Prédios super altos e trânsito mais do que intenso não tiram o sossego apenas das pessoas que moram em grandes centros urbanos. Pesquisa do museólogo Antonio Carlos Lobo Soares, do Museu Paraense Emílio Goeldi, em 2009, e que acaba de se transformar no livro “Impactos da urbanização sobre parques: estudo de caso do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi (Belém-PA)”, lançado pela editora Blucher, de São Paulo, revela que as áreas verdes mantidas em forma de parques e praças nas grandes cidades também sofrem com os impactos da urbanização. O tráfego rodoviário é o maior vilão a impactar os parques públicos. 
 
Lobo agora está analisando os casos do Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves, localizado em uma das avenidas com maior intensidade de tráfego de Belém, e das praças Batista Campos e República, ambas em áreas de grande fluxo de veículos. “Posso afirmar que os problemas nestes quatro espaços se assemelham. Os maiores em área sofrem menos que os menores", diz o pesquisador.

Barulho intenso.

O estudo comprovou que o ruído produzido pelo tráfego de veículos no entorno do Museu compromete um dos aspectos mais característicos do Parque: a tranquilidade. Essa queixa foi feita por 46% dos visitantes entrevistados pelo pesquisador. Em todos os pontos de medição foram registrados níveis sonoros acima de 55 decibéis, chegando a 70 dB nos pontos mais críticos, nas periferias do Parque sob forte influência do trânsito.

Esse índice mínimo é superado nos pontos medidos no domingo, atingindo de 59 dB a 65 dB. Em ambos os casos, os níveis alcançados estão muito acima dos índices considerados aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela normativa brasileira vigente (ABNT-NBR 10151). “Se a tranqüilidade da fauna, da flora e dos visitantes destes parques está perdendo qualidade, isto significa que a população belenense está sofrendo igualmente, por estar sujeita às mesmas fontes que são aqui apresentadas”, atesta o pesquisador.

VERTICALIZAÇÃO
Outra ameaça às áreas verdes urbanas é a verticalização das construções. De 1975 a 1986 foram construídos, em Belém, 178 prédios com mais de 15 andares, 49 deles (27,5%) em Nazaré e São Brás, onde está o Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi. De acordo com o arquivo da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), entre 1987 e 1989, foram aprovados 235 novos projetos de construções com mais de 15 andares na capital.

Segundo Lobo, os grandes prédios próximos às áreas verdes provocam ao menos dois grandes problemas: sombreamento e alteração do vento. No caso do Museu, nos últimos anos, pelo menos 36% de sua área foi sombreada por prédios ao redor. “Os edifícios altos, ao sombrearem o Parque Zoobotânico, tornam a umidade na área excessiva, favorecendo a decomposição da biomassa vegetal e a incidência de pragas e moléstias em seu interior”, explica.

Já o vento, canalizado entre os edifícios, ganha mais velocidade e passa a interferir no processo de transpiração das folhas, podendo ocorrer quedas de galhos e até de árvores na periferia do Parque.

Outro problema apontado pelo pesquisador é que os edifícios aumentam a radiação solar no entorno do Museu, causando desconforto às pessoas e contribuindo para a impermeabilização do solo, o que vem a prejudicar o abastecimento dos lençóis freáticos da cidade.

A utilização de equipamentos bate-estacas nas fundações desses edifícios abala as raízes das árvores do Parque. A influência dos edifícios, que impedem a incidência direta de luz solar sobre as árvores durante boa parte da manhã e da tarde, diminui a quota do fotoperiodismo das plantas, em prejuízo de seu desenvolvimento e resistência a agentes danosos.

Pelo menos três botânicos do Museu: Paulo Cavalcante, Pedro Lisboa e Márcio Jardim atestaram que muitas árvores do Parque estão morrendo antes da idade senil, consequência de ataques de pragas e moléstias atribuídas a fungos.

O sombreamento, explica o pesquisador, aumenta a concentração de umidade no solo; favorece o desenvolvimento e a propagação de fungos exofíticos e endofiticos, que são patógenos e causam a morte de alguns espécimes vegetais.

Sem contar que a morte de exemplares da flora leva à perda da fauna associada a eles. A dificuldade de penetração dos raios solares no interior do Parque pode ocasionar mudanças no comportamento de aves como garças, socós, urubus-rei e gaviões-real, que buscam o topo dos viveiros à procura de aquecimento, fator essencial ao seu metabolism

“A urbanização como acontece hoje ameaça estes quatro parques, mas não creio que os levará ao desaparecimento, até porque todos são tombados pelo patrimônio histórico, artístico e cultural. No entanto, penso que se medidas de proteção não forem implementadas em tempo, estas áreas se degradarão de tal forma que não mais atrairão seus visitantes e conservadores em potencial.”

Fonte:
Redação ANN, Wikipédia e O Liberal em 06/11/2011

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