Fernando Vives aponta dez assuntos delicados que envolvem a organização do Mundial 2014, no Brasil
1) Lei Geral da Copa - conjunto de mudanças na lei brasileira para o período do Mundial pode estar ofendendo o CDC
Para sediar a copa, o governo brasileiro aceitou uma série de exigências feitas pela Fifa, as quais estão elencadas na Lei Geral da Copa, a ser votada pelo Congresso no início de 2012. O problema é que algumas dessas exigências ofendem o Código de Defesa do Consumidor, como, por exemplo, permitir que a Fifa faça venda casada de ingressos e pacotes de viagens; possibilitar que empresas parceiras do mundial tenham poder de exigir que bares e restaurantes próximos dos estádios sejam obrigados a vender apenas os produtos dos patrocinadores oficiais. Jospeh Blatter também quer uma espécie de tribunal de exceção para julgar casos de pirataria que envolvem produtos com o seu nome de forma não licenciada.
Muita coisa precisa ser discutida e pode ser mudada ainda até a aprovação do projeto de lei. O que está em jogo é a submissão de um estado nacional para uma entidade privada que só visa o lucro.
2) Corrupção
O Brasil é o país da negociata. Se mesmo em crise tem muita gente querendo tirar um pedaço de contratos públicos, o que dizer de um evento que pode movimentar mais de 5 bilhões de reais? Ao menos um ministro já caiu por conta de denúncias sobre contratos: Pedro Novaes (PMDB), do Turismo. Sob seu comando a pasta havia prorrogado convênio investigado pela Polícia Federal por fraude e desvio de verba pública. O ministério repassou 1,1 milhão de reais à Associação Brasileira de Transportes Aéreos Regionais (Abetar) para capacitação profissional visando a Copa do Mundo. Semana passada, denúncia do jornal O Estado de S. Paulo aponta que o Ministério das Cidades adulterou um laudo técnico que aumentava em 700 milhões de reais a verba para transporte público de Cuiabá (MT), uma das sedes. Adulteração de laudo técnico também pode ser incluída na categoria de corrupção.
3) Aeroportos
A Fifa e o COL (Comitê Organizador da Copa) apontam a infra-estrutura aeroportuária do País como o ponto mais crítica para a organização do Mundial 2014. Faltando dois anos e meio para as hordas de turistas chegarem ao Brasil para a competição, 5 dos 13 aeroportos das cidades envolvidas que passarão por reformas mal ou nem começaram a executá-las. É grande a expectativa de puxadinhos improvisados nos terminais e de caos generalizado entre junho e julho de 2014.
4) Mobilidade urbana
O boom econômico brasileiro da última década trouxe, entre tantas benesses, ao menos um problema crônico: a mobilidade urbana. Muita gente passou a ter carro em pouco tempo. Como consequência, a grande maioria das grandes e médias cidades do País passaram a ter congestionamento inimagináveis há poucas décadas, sem que as ruas das cidades acompanhassem esse crescimento. Pensando também na Copa do Mundo, a presidenta Dilma Rousseff liberou 18 bilhões de reais para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para a Mobilidade Urbana, verba voltada para alargamento de ruas e melhorias no transporte público de cidades com mais de 750 mil habitantes.
5) Os elefantes brancos pós-Copa
Dos 12 estádios envolvidos no Mundial brasileiro, ao menos três deles prometem tornar-se um monumental engodo para as cidades-sede após a competição: o Verdão (Cuiabá), o Estádio Nacional (Brasília) e a Arena da Amazônia (Manaus). Sem clubes nas duas principais divisões do futebol nacional há vários anos, Mato Grosso e Amazonas terão cada um seu estádio com capacidade para 48 mil pessoas - nos estaduais, não conseguem levar 3 mil testemunhas aos clássicos regionais. A arena da capital federal não deixa a desejar em inutilidade: terá capacidade para 60 mil pessoas. As três cidades prometem fazer utilizar as arenas para outros eventos, como shows. Mas haja show pra compensar tanta megalomania...
6) Estrutura hoteleira
São Paulo e Rio de Janeiro são as únicas cidades-sedes da Copa que, com ajustes e apoio de cidades vizinhas, possuem infra-estrutura interessante para sediar um evento do porte de uma Copa do Mundo. As demais sedes estão fazendo fortes ajustes para não deixar turistas dormindo ao relento em 2014. E a balança pode acabar pesando para o outro lado: existe também o risco de termos um excesso de quartos após o Mundial, a chamada superoferta. De acordo com um estudo feito pela consultoria HotelInvest junto do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Manaus e Salvador correm altíssimo risco de verem a maior parte de seus quartos de hotel sempre vagos depois da competição. Em alto risco estão Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá. Na outra ponta, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre devem manter cerca de 70% das vagas de seus hotéis ocupada a partir de julho de 2014, índice considerado o ideal.
7) Greves nas obras da Copa
O Brasil foi eleito sede do Mundial 2014 há quatro anos, mas a coisa só começou a andar pra valer a partir de 2010. Nos primeiros anos, muita confusão. Aí a Fifa resolveu buzinar quanto aos atrasos e, enfim, as obras deslancharam, mas já a perigo de não estarem prontas para o evento. Com o ritmo frenético das obras, greves de operários há ocorreram em menos três lugares: em São Lourenço da Mata, no estádio de Pernambuco, em Brasília, no estádio Nacional, e e no Maracanã. O discurso dos grevistas eram sempre parecidos: condições de trabalho precárias e salário ruim. Quando a bagunça vem lá de cima, sempre quem paga o pago são os que estão embaixo. Novas greves devem surgir em 2012 e 2013.
8) Obras dos Estádios
Até o início de 2011, talvez o principal problema para a realização do Mundial fosse a falta de definição para os estádios da Copa. Dois exemplos: em Porto Alegre, o Beira-Rio era ameaçado pela nova arena do Grêmio. Em São Paulo, Morumbi e Arena Palestra Itália foram tiradas do Mundial a fórceps pelo Itaquerão. Agora, todos os estádios seguem um ritmo intenso de construção ou reforma. Itaquerão e, sobretudo, a Arena das Dunas, de Natal, são as mais atrasadas. O estádio paulista já está a todo vapor. Mas a arena potiguar segue emperradíssima.
9) Segurança
Pela falta de convivência com o assunto, o Brasil pode ser considerado um alvo interessante para terroristas em 2014. O País deve ter em torno de 45 mil homens a mais das Forças Armadas cuidando da segurança durante o Mundial. A presidenta Dilma Rousseff não divulgou ainda quanto será gasto em segurança, mas especialistas brasileiros da área já estudam planos de segurança utilizados em grandes eventos no exterior.
10) Hooligans
Hooligans são torcedores normamente europeus (na Argentina também são comuns sob o nome de "Barrabravas") que bebem e brigam muito, causando forte arruaça pelos locais que passam. Na Alemanha 2006 e África do Sul 2010, eles foram devidamente fichados com antecedência e, ao chegar ao país-sede, muitos foram mandados de volta a seus países de origem. O Brasil já tem planos de montar uma espécie de lista negra de arruaceiros para que não causem estragos por aqui em 2014.
Fonte: http://br.esportes.yahoo.com/blogs/de-olho-na-copa/top-10-preocupa%C3%A7%C3%B5es-para-copa-023007342.html
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