" ... Cidades como Londres, Paris, Roma etc., nos parecem humanas, e Nova York, São Paulo etc., nos parecem desumanas. E por quê? Psicologia à parte, com a Revolução Francesa, como é sabido, a burguesia tomou o poder, instaurando a democracia liberal e o capitalismo econômico. Assim, diz-nos Corbisier
`A vitória da burguesia significa a ascensão ao poder de mercadores e comerciantes, agiotas e banqueiros, representantes, não do poder espiritual e político, mas do poder econômico e financeiro. E esta é a razão pela qual o poder espiritual e político são então substituídos pelo poder do dinheiro. E essa é a substância de toda nossa história moderna. É verdade, o capitalismo também construiu cidades, não mais em função de valores religiosos, estéticos e políticos, mas em função de valores econômicos. E, como o capitalismo é essencialmente individualista, anti-comunitário, construiu cidades à sua imagem e semelhança, em função dos interesses dos empresários privados, do lucro e do dinheiro, como valores supremos. A grande cidade capitalista, construída sob o signo do lucro e do dinheiro, nada mais tem a ver com a cidade tal como a imaginaram os grandes sábios da Antigüidade, pois não existe para permitir aos seus habitantes o exercício da virtude, a conquista da felicidade, e não passa do cenário em que se trava a luta implacável pela sobrevivência, em que todos são inimigos de todos, em que o homem se torna o lobo do homem, como dizia Hobbes, em que a prostituição, a violência, o vício e o crime alcançam índices mais elevados. E por significativa coincidência, nessas cidades, os maiores edifícios, mais imponentes e luxuosos, não são as igrejas e as sedes do poder político, mas os bancos, onde se abriga, nos cofres subterrâneos, o deus do sistema, o dinheiro. Verificamos, assim, que a cidade é inumana, ou desumana, porque é capitalista, porque o seu deus é o dinheiro ...`
Poluição visual no centro da Times Square – marcas usam todos os artifícios para “seduzir” os consumidores |
Fonte: VALADÃO, Walter Aguiar. Por que Paidéia? Por um direito à cidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2937, 17 jul. 2011. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/19572>. Acesso em: 23 jul. 2011.
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