A miséria não é compatível com a civilização

domingo, 17 de julho de 2011

O MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) informou que o novo plano federal contra a miséria, que ainda está em gestação, vai atender quem vive com até R$ 70 por mês.
A linha de corte é controversa entre especialistas ouvidos pelo R7, mas eles apoiam a decisão da presidente Dilma Rousseff de colocar a questão como prioridade e estabelecer metas reais para reduzir o problema.

Sergei Soares ( técnico de planejamento e pesquisa do Ipea -Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - em palestra no MDS, no último dia 5) disse que há diversas formas de calcular uma linha de pobreza e todas são arbitrárias:
  • uma que considera apenas a renda e outras que incluem, por exemplo, acesso à água e taxa de analfabetismo;
  • no final das contas, o governo não escolhe nenhuma, mas usa considerações de vários pesquisadores para decidir por conta própria um número: R$ 70 para considerar a pobreza extrema
O valor leva em conta o mínimo do mínimo para sobreviver. Em uma cidade como São Paulo, com cerca de R$ 2,30 por dia, não é possível comprar uma passagem de ida no metrô muito menos pagar um prato feito. Dá apenas para comer um sanduíche ou frutas e legumes, como bananas e cenoura.

Célia Lessa Kerstenetzky (coordenadora do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento da UFF - Universidade Federal Fluminense) se manifestou sobre o programa:
  • o corte do governo é insatisfatório e deve haver uma discussão pública para esclarecer por que ele foi escolhido.
  • Estudos sobre pobreza trabalham com linhas de corte fixadas em termos do salário mínimo - meio salário mínimo per capita [por pessoa], como corte para a pobreza; um quarto de salário mínimo per capita, como corte para a pobreza extrema. O valor de R$ 70 está bem abaixo do equivalente a um quarto do salário, que seria, nesse momento, cerca de R$ 130;
  • de acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o mínimo necessário para cobrir as despesas básicas de uma família de quatro pessoas seria R$ 2.255, pouco mais de R$ 500 reais por pessoa. Metade do valor (R$ 250) daria conta das despesas com alimentação. Portanto, “R$70 representa pouco mais da metade do valor de referência dos estudos sobre pobreza (inclusive do valor de referência para efeito de cadastro no CadÚnico do MDS) e menos de um terço do valor estimado pelo Dieese”;
  • No entanto, é positivo que uma presidente coloque como meta a erradicação da miséria dentro de um período determinado (até 2014).
  • a miséria não é compatível com a civilização.

Rodrigo Coelho, pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma:
  • o problema da pobreza é muito mais complicado que a questão da renda – e o governo sabe disso;
  •  para uma política pública ser pensada e dar certo, ela precisa ser aceita pela sociedade, que precisa entender essa política. 
  • A definição do critério de renda poderia ser contestada sob alguns aspectos, mas todo mundo consegue entender que alguém que vive com menos de R$ 70 por mês precisa realmente de um apoio diferenciado para sair dessa situação.
Citando o senador Cristovam Buarque, Rodrigo Coelho diz que o Brasil sempre conseguiu fazer o que quis, inclusive coisas dificílimas, como abrir uma estrada no meio da floresta Amazônica, criar uma nova capital e crescer 50 anos em cinco, mas nunca houve uma prioridade de acabar com a pobreza.

 Fonte: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/linha-de-corte-em-plano-contra-miseria-e-polemica-mas-especialistas-apoiam-adocao-de-metas-20110514.html?question=0

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