Gestão documental recomendada por Peluso é, na verdade, uma ordem de apagão na memória do Poder Judiciário

domingo, 9 de outubro de 2011

A recomendação nº 37 baixada pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministro Cezar Peluso,  aparentemente é uma orientação aos tribunais do país para preservar seus documentos. Tem 1.800 palavras e quem a lê desavisadamente sente-se no paraíso pois ela menciona que se trata de "Programa Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário", criando mecanismos para a digitalização de processos.

Ocorre que o
item 20 da recomendação é uma ordem de destruição:
"Será preservada uma amostra estatística representativa do universo dos documentos e processos administrativos e dos autos judiciais findos destinados à eliminação." Ou seja, os demais serão DESTRUÍDOS.
 
A ameaça de apagão  que há anos ameaça a memória do Judiciário reaparece com força total. 
 
Embora muitos possam dizer que é um papelório têm valor, que pode chegar a 20 milhões de processos em documentos que juntam bichos, mofo e perigo de fogo, para os historiadores, nesses papéis está a história que,  em muitos casos, só ali pode ser encontrada.

Peluso recomenda que sejam destruídos processos encerrados há cinco ou dez anos. Só excepcionalmente, em casos que envolvem patrimônios, podem durar até cem anos. Deles, sobreviverá apenas uma "amostra estatística". 
 
 
ELIO GASPARI, em matéria publicado em O Globo e Folha de São Paulo, 11.07.2011, lembrou que:
 
"Pode-se sustentar que não compete ao Judiciário gastar dinheiro preservando processos velhos. Também é o caso de se conjurar projetos megalomaníacos de digitalização. Daí a destruir os papéis vai uma distância enorme. No Paraná, a Justiça do Trabalho publicou um edital abrindo o caminho para para o descarte de cerca de 62 mil processos trabalhistas. Felizmente, a Unoeste de Marechal Cândido Rondon pediu a guarda do arquivo, e o caso poderá ser resolvido de forma exemplar.

O doutor Peluso sabe quão prósperos são os grandes escritórios de advocacia. O Rio Grande do Sul preserva 14 milhões de processos da sua Justiça, e isso custa à Viúva algo como R$ 4,2 milhões por ano (incluindo aluguel, água, luz e telefone). Instituições oficiais de financiamento, ou programas do BNDES e da Petrobras, associados a algumas bancas de advogados, poderiam desatar esse nó em outros Estados.
Se a destruição for evitada e os arquivos forem salvos, algum dia uma grande cidade poderá montar um projeto semelhante ao dos papéis da corte criminal de Londres. No "Old Bailey" digitalizaram 197 mil julgamentos preservados, com 240 mil manuscritos onde estão 3,35 milhões de nomes da ralé que passou pela Justiça entre 1674 e 1913. Essa papelada ensina que, em 1889, um sujeito era acusado de ganhar 20 libras para enviar uma jovem a um bordel brasileiro. Graças à preservação de um censo dos hóspedes da prisão de Holloway, sabe-se que, em 1881, lá esteve Edward Glassborow, tataravô de Kate Midletton, duquesa de Cambridge".
 
 
Meus comentários: vê-se que a "falta de cultura da braba" nao é "privilégio" de alguns vereadores de Belém. 

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