Porque não ao Tapajós

sábado, 10 de dezembro de 2011

Por Lucio Flavio Pinto

Eu gostaria muito de votar pela criação do Estado do Tapajós. Santarém é minha querida terra natal, matriz de muitas das marcas da minha personalidade. Meu pai, Elias Pinto, como deputado estadual com reduto eleitoral no Baixo Amazonas paraense, foi o autor do primeiro projeto de emancipação do Estado, em 1957.
Um dos seus compromissos como prefeito municipal, eleito nove anos depois, era a transformação da região em Estado. Mas exerceu um único semestre do seu mandato de quatro anos. Seu partido, o MDB (atual PMDB), de oposição, só venceu em dois dos 71 municípios no Pará em 1966.
A conquista de Santa Izabel era inexpressiva. Mas Santarém era o segundo município do Pará e a terceira cidade mais populosa da Amazônia. O governador, tenente-coronel (na reserva do Exército) Alacid Nunes, também eleito na ocasião, nunca aceitou essa derrota. Ainda mais porque já travava uma guerra (naquela época, apenas de bastidores) com seu padrinho político, o também eleito senador (e primeiro governador do regime militar, depois ministro em várias ocasiões) coronel Jarbas Passarinho, que se afinava mais com o deputado federal (e brigadeiro) Haroldo Veloso. O herói da Aeronáutica apoiava meu pai, vítima – por linhas tortuosas – de mais essa polarização de poder no Pará.
A destituição violenta e arbitrária de Elias Pinto da prefeitura, além do mais destituída de legitimidade, seis meses depois da posse, conseguida na terceira tentativa contra as elites locais, com a maior das votações em Santarém em toda a história republicana, foi um elemento a mais no antagonismo entre a Pérola do Tapajós e a capital. A dissociação das duas cidades era realmente um traço histórico, cultural, que acumulara um acervo de razões para que o Baixo Amazonas não quisesse mais permanecer sob a jurisdição de Belém.
Há uma montanha de motivos para defender a autonomia do oeste do Pará, mas o projeto do senador Mozarildo Cavalcante, de Roraima, pôs tudo a perder. Ele nunca integrou essa história e, ao formular um projeto oportunista, jogou fora a possibilidade de conquistar a simpatia da população do Pará remanescente.
A aprovação do projeto, aliás, só aconteceu provavelmente porque o senador se colocou à frente dos arranjos parlamentares para que, finalmente, fosse aprovado o projeto do Estado do Tapajós, até então um peregrino fantasma nas comissões do Congresso Nacional.
A grande distorção consistiu na inclusão do Xingu no novo Estado, o que nunca esteve na cogitação dos formuladores dos projetos anteriores de emancipação. Esse acréscimo deu uma configuração gigantesca ao novo Estado, que, com uma densidade demográfica rarefeita e um território que seria o 3º maior do país, certamente iria repetir os erros de gestão da atual capital.
Também iria criar novos focos de resistência ao comando de Santarém, sem falar nas incompatibilidades de natureza histórica, cultural e até geográfica. Tudo para colocar a hidrelétrica de Belo Monte sob a tutela do novo Estado.
Os santarenos honestamente defensores da emancipação como um caminho para resolver seus problemas, ou pelo menos passar a atacá-los, o que a capital paraense não vem fazendo com a intensidade e o volume requeridos, precisavam refletir sobre o passado recente.
Por causa do episódio sangrento de 1968, que teve repercussão nacional e internacional, ou por razões estratégicas mais amplas de Brasília, as principais reivindicações dos santarenos foram atendidas: eles passaram a ter um novo aeroporto, um novo porto, a hidrelétrica de Curuá-Una, (bem ou mal) as rodovias Santarém-Cuiabá e Transamazônica, e até o então luxuoso Tropical Hotel, ainda hoje maior do que a cidade, construído pela Varig para atender aos caprichos dos donos do poder (mas com substancial ajuda e compensações).
Santarém teve o desenvolvimento que essas obras de infraestrutura sugeriam? Só os fanáticos do regime militar podem dizer que sim. Mesmo os mais conservadores sempre lamentaram que o progresso não tivesse chegado, como parecia que ocorreria automaticamente. A cidade cresceu, alguns negócios novos surgiram, imigrantes foram atraídos, mas uma análise do custo/benefício resultaria em déficit.
Os santarenos podiam ter examinado o que aconteceu quando o Amapá foi desmembrado do Pará, transformado em território federal (e não Estado, condição até hoje não amadurecida) e presenteado pela União com a hidrelétrica do Palhão, o porto de Santana, a ferrovia desde a mina de manganês da Serra do Navio (com 200 quilômetros), a sinalização do canal norte do rio Amazonas, abrindo novas perspectivas para a navegação por aquele caminho fluvial. Mas o Amapá se desenvolveu mesmo? A resposta é tão negativa quanto a de Santarém. Ou mais.
Diante da projeção do que seria o Estado do Tapajós a partir da sua aprovação no plebiscito, a questão é: essa nova situação teria efeito diverso dos projetos anteriores? Santarém conseguiria realizar o que Belém deixou de fazer (ou se desinteressou por fazer?)? A relação custo/benefício se tornaria superavitária? Eu acho que não. Por isso não poderia realizar minha aspiração de votar pelo novo Estado.

Fonte:http://colunistas.yahoo.net/posts/14501.html

0 comentários:

Postar um comentário

 

Posts Comments

©2006-2010 ·TNB