Minhas aventuras ministeriais na Amazônia
Por: Lilian Regina Furtado Braga
Por: Lilian Regina Furtado Braga
Esta semana, fui cumprir mais uma das minhas tarefas ministeriais em umas comunidades do Rio Mamuru aqui em Juruti.
Eu já havia estado no Rio mamuru outras duas vezes e fui tomada de um profundo encantamento. Mas algo de muito novo e mui belo me era reservado nesta viagem. Imaginem viajar em uma lancha (um 90 como dizem aqui) que anda 60 Km/h. Imaginem 4 horas de curva de rio, duzentos quilômetros até chegar no primeiro lugar para encontrar a comunidade.
Bom, não vou lhes falar do meu trabalho, mas do que vi e marcou de forma indelével minha alma, meu ser amazônico.
Penso que sou uma mulher do rio, uma CABOCA DAS ÁGUAS... não sei se mãe d'água, meio Iara... kkkkkkkkk... meu encantamento .... ás vezes tem uma canção.. kkkkkkkkkk
O rio me encanta, me atrai e quando me chama para ir pro Rio parece que minha alma se reacende e lá o meião do rio Amazonas as coisas se RE-SIGNIFICAM para mim.
As imagens que compartilho com vocês dizem bem do que foi tomada minha alma.
Bom, fui à comunidade Monte Carmelo. Lá dormi um lindo sono, embaixo de um cajueiro... que há muito não experimentava. Sono de paz, sono de descanso.
No fim da tarde partimos para Aldeia Ipiranga do índios SATERÉ MAUÉ.
Eu estava ansiosa por isso. Nunca tinha visitado uma aldeia, nunca tinha estado entre indígenas... só quando quiseram me sequestrar lá nos MARÓ... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, lembra disso Adleer?
Eles são parentes do Sherek... vivem no reino do TÃO TÃO TÃO TÃO TÃO TÃO LONGE... gente, muito longe. Eles literalmente se escondem.
E haja curva de rio. Juro que não sei como o povo não se perde.
Tínhamos um guia, que dizia, vira pra cá, agora pra cá e vira pra lá e a agora pra cá...
Depois de quase três horas de vira prá cá e vira pra lá ele olhou pra nós e disse chegamos. Ufa!
Ei, já estava escurão, com uma lua linda, mas não via nada da Aldeia, só a luz das lanternas.
Fomos recebidos pelo Sr. João que nos levou imediatamente para a casa do Tuxaua e lá ele nos esperava, sentado, como um TUXAUA e nossa noite foi um desvelar de muitas histórias e estórias.
Na viagem me fizeram todo medo das comidas que iriam nos servir. Mas eu sou guerreira, só não como pedra porque não dá pra mastigar... kkkkkkkk
Guaraná e uma caça, foi o que nos ofereceram e digo... tava muito bom.
Nada de sopa de sapo! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Dormi com a recomendação de cuidado com o CURUPIRA.
Mas eu estava bem guardada na casa do TUXAUA e este tar de CURUPIRA não apareceu. Eu até queria vê-lo.
O dia amanheceu cedo e fui andar pela aldeia e observar aquelas figurinhas interessantes que de rabo de olho também me observavam.
As meninas passavam a mão no meu cabelo pixaim... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Quando já ia embora, fiquei super emocionada com o presente que ganhei um colar e o convite de voltar outras vezes.
Vejam as fotos e curtam comigo esse momento que me carimbou.
Aprendam ai um pouquinho de Sateré:
- gaiapyy - floresta
- woiokyie - amor
- uimikye - eu te amo
- getap - casa
- pakua - banana
- ihot ok - bom dia!
- waku - muito bom
- eriot ro - vem cá
Voltei pra Juruti Novo vendo uma linda lua sair no rio, botos cor de rosa no cio e um cheiro de rio e floresta.
Beijos bem amazônicos, com meu amor que se alimenta dessas experiências todas e é pra vocês.
Lílian
Meus Comentários: este texto escrito pela colega PJ Lilian Braga me foi remetido por e-mail pela também colega PJ Janaina Sousa, com o seguinte comentário: "Segue abaixo um texto escrito pela amiga e Promtora de Justiça, titular da comarca de Juruti, LILIAN REGINA FURTADO BRAGA. Esse texto ele tem uma importância ímpar: ele retrata um mundo desconhecido de pessoas que não tem assistência do Estado (em sentido lato), retrata um mundo do Ministério Público que muitos dos nossos membros e muitos e muitos outros fora do Pará desconhecem. Retrata que mesmo com todas as dificuldades hoje de ser representante do Ministério Público, podemos fazer um trabalho legal em prol da sociedade e serve também para resgatar no fundo do coração daqueles que se sentem frustrados muitas vezes pela falta de estrutura, a gratidão e a satisfação em se Promover a Justiça.Assim, entendo que seria interessante a divulgação desse texto, não como forma de promoção pessoal da colega, mas sim de informar que existe um mundo Amazônico em que se vive Gente e de melhor qualidade!!!!"
1 comentários:
Após percorrer aproximadamente 360 quilômetros de curvas do rio Mamuru, em uma lancha a motor, a promotora de justiça Lílian Braga chegou à comunidade de Monte Carmelo, para ouvir pessoas ameaçadas de morte em virtude de crimes ambientais ocorridos na região. A solicitação foi feita ao MP pelo Movimento Juruti em Ação, que congrega a Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Rio Mamuru (Aprim). A promotora visitou ainda a comunidade do Mirizal e a aldeia Ipiranga dos índios Sateré Maué.
A promotora de justiça saiu de Juruti às 16 horas do dia 6 de dezembro, pernoitou em Parintins e seguiu para a comunidade Monte Carmelo, aonde chegou às 10h30 do dia 7, com uma parada na comunidade Bela Vista para apurar denúncias relativas a uma pista de pouso próxima a estrada que liga a região do Mamuru a sede do município de Juruti. A pista estaria sendo utilizada para o tráfico de entorpecentes e ainda por empresários madeireiros da região.
A região do Rio Mamuru é a área onde ocorre destinação fundiária a comunidades tradicionais, por meio do Iterpa. O decreto estadual n° 2.587, de 28 de outubro de 2010, criou o Pró-Assentamento Estadual (PROA) Mamuru, com 136.524,0033 hectares, para fins de posterior implementação do Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista Mamuru, e assim, regularizar a ocupação de terras cultivadas por aproximadamente 300 famílias. Nesta região também se avizinha a área de concessão florestal do estado do Pará, comandada pelo Ideflor, por meio da concorrência 01/2011.
Nesse contexto, ocorreram as denúncias dos comunitários ao MP, que levaram a promotoria a se deslocar até o local para ouvi-los, dada a distância e a dificuldade dos mesmos irem até Juruti. As ameaças de morte, segundo a promotora, são em virtude de crimes ambientais que estão sendo cometidos na região, especialmente, comercialização de quelônios e peixes, e extração e comercialização ilegal de madeira.
Em Monte Carmelo residem 11 famílias que vivem da agricultura familiar, pesca e exploração de produtos florestais. Nas comunidades do rio Mamuru não há postos de saúde ou qualquer técnico na área de saúde para atendê-los. Os doentes mais graves são encaminhados para o município de Parintins.
A promotora aguardou a chegada dos comunitários de Mirizal, uma das últimas da região do Mamuru, quase na fronteira com o município de Itaituba. Como não conseguiram transporte para chegar a Monte Carmelo, Lílian Braga se deslocou no dia seguinte até a comunidade, pernoitando na aldeia Ipiranga dos índios Sateré Maué, na casa do tuxaua chefe da tribo.
Mirizal – Nessa comunidade a promotora foi ouvir os moradores na escola local, que estão preocupados com a movimentação na floresta por conta da concessão florestal. “As pessoas que se sentem ameaçadas e as que já foram ameaçadas é por conta da retirada ilegal de madeira e ocupação indiscriminada do território”, informa Lílian.
Com relação às denúncias, o Ministério Público já pediu providências às polícias Civil, e Militar Ambiental, ao Ideflor e ao Iterpa, além da intervenção da Ouvidoria Agrária Nacional para acompanhar a situação. “A situação é delicada, pois estão longe de tudo e de todos, mas muito perto da madeira que é tão cobiçada economicamente”, ressalta a promotora, que diz ainda da necessidade do Estado em concluir a destinação fundiária da comunidade, o que poderia fortalecê-los para terem condições de acompanhar de forma mais justa a questão madeireira na região.
Leia AQUI o relato pessoal da promotora de justiça Lílian Braga.
Lila Bermeguy, de Santarém.
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