Feliz aniversário, Barcarena.

Por Ana Maria
Hoje Barcarena completa 68 anos. Cidade berço da Cabanagem, seu nome teve origem a partir da presença, no assentamento populacional, de uma embarcação que se chamava “Arena”. Como os  habitantes do lugar chamavam o transporte de barca, a junção das duas palavras fez com que a localidade fosse batizada de Barcarena.

Quem conhece Barcarena se apaixona: o lugar é lindo, cercado de rios mansos e largos, com ilhas e ilhas a serem exploradas, onde habitam pessoas com vasto conhecimento tradicional que dá gosto ficar ouvindo as histórias. A população é altamente esclarecida da importância da preservação de sua cultura e muito organizada em associações.  Tenho certeza que os próximos anos serão promissores para o local, pois a sociedade civil organizada saberá pensar e exigir um novo tempo para o município.

Barcarena tem história, monumentos e cultura para mostrar ao mundo. Infelizmente, sem uma política de incentivo ao turismo e à valorização da verdadeira cultura. 

Alguns pontos inesquecíveis

Foto tirada por Carlos Baía

 

 

Igreja de São João Batista - Barcarena / PA, construída em 1863, por jesuítas e indígenas - Visite sem falta a linda igreja do século XIX, com santos e altares do século XVI, localizada em vila do Conde, que infelizmente clama por restauração. Os santos tem braços e pernas que se movem, tudo é lindo e interessante. A igrejinha foi construída, originalmente, com a porta principal voltada para a praia, pois a chegada - à época - era por essa via. Hoje a porta principal dá para a pracinha que lhe fica em frente.

A dona da peixaria e eu

Praia de rio - Por falar em vila do Conde, o lugar todo é ímpar.  A visão das praias de rios (aquelas tao familares para nós, com areia e vegetação amazônica) convida à preguiça e a comer um peixe (frito, cozido, assado, ao molho, etc.) na Peixaria Tucunaré, ouvindo o canto de pássaros livres, que habitam uma árvore existente no meio da própria peixaria. Aconselho que você vá sem pressa, pois dá uma vontade de atar uma rede lá no andar de cima da peixaria e passar o resto da tarde admirando a beleza da natureza barcarenense.

Cemitério do Cafezal - garanto que nao se trata de um passeio macabro a visita a um cemitério (abandonado pelo Estado) do século XIX, localizado dentro de uma propriedade particular, no Cafezal. Seu Francisco, dono da área onde está o cemitério, é uma das pessoas responsáveis por meu amor por Barcarena. Foi ele que me contou a história do local, onde havia um Casarao que lá foi erguido no século XVIII (eu visitei as ruínas) que um prefeito inculto e mau mandou demolir e ainda teria se apropriado das peças. 

Conhecimentos tradicionais - cada árvore, cada planta, serve para curar alguma coisa ou melhorar a saúde. Seu Francisco deu-se ao trabalho de me falar sobre cada uma delas, inclusive, tomei a termo as declarações porque queria apreender mesmo aqueles conhecimentos. 

E as parteiras? Lembram-se que existiam parteiras em Belém? Pois ainda existem pessoas, em Barcarena, que fazem o trabalho de parto. 

Artesanato - é lindo o artesanato barcarenense. Pena que pouco conhecido.

As ilhas e os rios - pegue uma lancha e vá explorar as ilhas e os rios de Barcarena. Pare para conversar com as pessoas. Você nunca esquecerá e vai querer voltar, pois provavelmente será encantado pela Mae do Rio ou por um boto (se for mulher). Acho que esse tipo de magia aconteceu comigo, pois não deixo de sonhar com o dia em que voltarei para Barcarena.

Enfim, há tanta coisa para ver por lá que não cabe neste espaço...

No ponto de vista econômico, Barcarena se destaca na agricultura e na indústria, pois o município é um importante polo industrial para o país. 
Dados divulgados neste mês pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp) em parceria com o IBGE, mostra que em 2009 o município teve o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB), com 5,63% de participação. Em relação ao PIB per capita, a cidade ficou em segundo lugar com R$ 35.513.

Infelizmente, esses dados encobrem tantas carências. Por exemplo, o problema da falta de energia elétrica em um município cujas industrias são as principais beneficiadas pela Hidrelétrica de Tucurui. Só a título de exemplo, nas salas de aula das escolas públicas, a energia elétrica é tão fraca e instável que não consegue fazer girar um ventilador. As pessoas que moram em frente à sede, nas ilhas, não tem energia elétrica; no Natal, o município passou na escuridão. Dá para aceitar isso?  

A chegada das empresas Albras e Alunorte na região auxiliou na diversificação da economia, deixando de ser meramente extrativista para passar ao beneficiamento dos recursos naturais, que antes eram exportados in natura. No entanto, várias comunidades reclamam que viviam de suas roças e hoje, em vista da poluição gerada por essas fábricas (e outras), nao conseguem plantar um pé de alface. O solo ficou árido.

A desordenação da cidade é gritante. Pessoas erguem lanchonetes de alvenaria na calçada de escolas, de forma que as crianças tem que andar pelo meio da rua porque a area pública está obstruída. A Vila dos Cabanos, que tinha um belo projeto de cidade sustentável, cada vez mais se descaracteriza. O terminal rodoviário é um lixo só. Para chegar na famosa praia do Caripi, temos que enfrentar uma avenida de buracos, que desincentivam qualquer turista a retornar. A praia é suja, barulhenta. As praias em frente à cidade, coitadas! Nenhuma ordem. Cada um faz o que bem entende, inclusive em relação aos resíduos sólidos. Uma grande invasão, desordenada e perigosa, ao lado da praia do Caripi consumiu uma área que até 3 anos antes era verde e bucólica. Hoje é um favelão que ameaça o ecossistema. Muitos afirmam que os invasores são "empresários" e pessoas de classe média que pagaram para outros invadirem. Afinal, o local é o mais nobre da cidade. Cada lote valerá um bom dinheiro daqui a poucos anos.

Bom, vou parar por aqui, senão minha postagem parecerá um panfleto, mas a verdade é que o município é bonito, tem recursos humanos, culturais, ambientais, mas falta trabalho eficiente voltado a tornar toda essa beleza conhecida, transformando o local em ponto turístico obrigatório - gerando renda e vida digna para os barcarenenses, mas dentro de um padrão de cidade sustentável e democrática. 

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