Araguaia - a história de violencia do Estado que nao se deixa sufocar

domingo, 18 de março de 2012

Na quarta-feira, 14, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Federal do Pará (PA), em Marabá, o coronel da reserva Sebastião Curió por crime de sequestro qualificado contra cinco integrantes da guerrilha do Araguaia: Maria Célia Corrêa (Rosinha), Hélio Luiz Navarro Magalhães (Edinho), Daniel Ribeiro Callado (Doca), Antônio de Pádua Costa (Piauí) e Telma Regina Cordeira Corrêa (Lia). Os seqüestros ocorreram entre janeiro e setembro de 1974. Após terem sido levados às bases militares coordenadas por Curió (na época, conhecido com o Dr. Luchini) e torturados, os cinco militantes desapareceram.
Dois dias depois, na sexta-feira, 16, o juiz federal João César Otoni de Matos, de Marabá (PA), rejeitou a denúncia feita pelo MPF contra Curió por entender que o Ministério Público tentou esquivar-se da Lei da Anistia ao propor a ação.
O Ministério Público Federal vai recorrer da decisão para que Curió seja processado pelos crimes de sequestro contra guerrilheiros do Araguaia.
Para o MPF, é “irrelevante a mera suspeita de que as vítimas estejam mortas”. “O fato concreto e suficiente é que após a privação da liberdade das vítimas, ainda não se sabe o paradeiro de tais pessoas e tampouco foram encontrados seus restos mortais”, diz a ação, que acusa Curió, “em razão de sua participação material e intelectual” nos fatos objeto da denúncia, de ser “um dos poucos agentes criminosos que ainda tem o conhecimento atual da localização das vítimas sequestradas”.
Mesmo com a rejeição da denúncia, os familiares dos sequestrados entenderam que se tratou de um marco diferencial na história da luta pela punição dos militares que cometeram crimes no Araguaia, pois pela primeira vez o Ministério Público Federal assumiu a defesa desses direitos tão caros à sociedade brasileira, visando os resgates dos corpos das vítimas e punição dos culpados. Quem sempre lutou na Justiça foram os familiares dos desaparecidos.
Crimeia
André Grabois


O que esperam os familiares dos desaparecidos
Criméia Almeida, companheira de André Grabois (mais um dos desaparecidos do Araguaia), afirmou em entrevista concedida à reporter Conceição Mendes, que o Movimento Feminino pela Anistia, criado em 1975, busca esclarecer os fatos e todas as circunstancias de como ocorreram as mortes dos militantes do Araguaia, bem como a entrega dos restos mortais dos desaparecidos às suas respectivas famílias e a punição dos torturadores/assassinos.

O fato de o coronel Curió ser o primeiro a ser denunciado é muito importante para os que padeceram sob o regime miliar porque, conforme bem explica Criméia Almeida, ele é uma das figuras vivas mais públicas da repressão à guerrilha, isto é, embora ainda existam muitos outros vivos, como Licio Augusto Maciel Ribeiro, Álvaro Pinheiro e outros, Curió é o mais público.

Uma pequena parte da história do Araguaia contada por Criméia Alice Schmidt de Almeida, hoje com 66 anos 
No final da década de 1960 o Araguaia era uma área de campo do PCdoB, mas ainda não havia a guerrilha, que só começou em abril de 1972, com o ataque das Forças Armadas. André Grabois (lê-se “Grabóis”, é polonês) e seu pai Maurício Grabois, um dos dirigentes do PCdoB, lá se encontravam até que, em abril de 1972, foram sequestrados (e, obviamente, mortos) pelas tropas do então major Curió. Seus corpos nunca foram encontrados.

Sobre a rejeição da denúncia contra Curió, Criméia Almeida disse à citada reporter que já esperava resistencia por parte do Poder Judiciário, mas não pensou que fosse tão rápido haja vista que "a Justiça está sempre ’sobrecarregada’. No caso da ação dos desaparecidos do Araguaia, que entrou em 1982, só foi transitada e julgada em 2007 e até hoje ainda não foi executada", afirmou a militante.

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